No Vodafone Rally de Portugal, Diogo Salvi destaca-se como o único piloto português a competir na categoria principal do WRC, algo que não acontecia desde 2012. Aos 55 anos, este empresário da área das tecnologias da informação decidiu realizar o sonho de conduzir um carro da categoria Rally1, ao volante de um Ford Puma da M-Sport. Um entusiasta que encara esta participação como um presente a si mesmo, com o objetivo de desfrutar da experiência e da emoção de competir, ao mais alto nível, num rali do Campeonato do Mundo.
Qual foi o momento em que percebeste que querias pilotar um carro Rally1?
Sempre tive o sonho de fazer o rali ao volante de um carro da categoria Rally1, lado a lado com os melhores pilotos do mundo. Quando a oportunidade surgiu, agarrei-a sem hesitar. Este carro é, sem dúvida, o melhor em termos de performance, dinâmica e tudo o resto. É um presente que dou a mim próprio — mas com a noção de que posso até vir a ser mais lento do que com o Skoda Rally2 com que corri no passado, por ir fazer o rali apenas com um curto teste realizado dias antes da partida.
A concretização deste sonho é um adeus ou apenas a primeira de mais participações no WRC?
Gostava muito que fosse a primeira de muitas participações. A minha empresa é o meu projeto de vida, mas tem-me impedido de fazer muitas outras coisas que gosto. Felizmente, tenho uma equipa de colaboradores fantástica e estou a trabalhar na passagem de testemunho. Assim que esse processo estiver concluído, quero começar a fazer outras coisas na vida, como escalada e mais ralis, sobretudo internacionais. Isso é, sem dúvida, o que quero fazer.
Se decidisses fazer um filme sobre a tua estreia no Rally1, quem gostarias que o realizasse e interpretasse?
O saudoso Miloš Forman. Um cineasta que sempre admirei profundamente e que cheguei a ter a oportunidade de conhecer pessoalmente. Infelizmente, não se concretizou, por causa de uma reunião — e arrependo-me de não o ter feito. Quanto ao ator, eu mesmo. E só por uma razão: para o poder conhecer ainda melhor.
Se pudesses adicionar um botão secreto ao volante do Puma Rally1, o que gostarias que ele fizesse?
Sem dúvida, um botão que controlasse o tempo! Gostava de ter um botão diretamente ligado a São Pedro para evitar a chuva. Seria frustrante não poder desfrutar plenamente da performance deste carro incrível por causa de condições meteorológicas adversas.
Como explicas o fascínio pelo WRC a alguém que nunca viu uma prova?
Explicar o fascínio pelo WRC a alguém que nunca viu uma prova é um desafio, porque as emoções e sensações são difíceis de transmitir. Numa era dominada pelas plataformas digitais, os ralis oferecem uma experiência única. É a oportunidade de ver máquinas e pilotos incríveis a superar os limites da física, em cenários deslumbrantes, de ouvir o som dos motores e sentir a adrenalina da competição ao vivo. É um evento que transcende o desporto, proporcionando um ambiente social e familiar único, onde as pessoas se deslocam para viver a ação de perto e ter contacto direto com os pilotos. Ao contrário dos circuitos, os ralis levam a competição a paisagens variadas, tornando cada passagem num espetáculo diferente.
Se pudesses levar alguém no carro, que não um navegador, quem escolherias e porquê?
Escolheria uma das pessoas que me são mais queridas — provavelmente um dos meus filhos. Partilhar uma experiência tão intensa e especial como esta, com um deles, seria inesquecível, e uma forma de lhes transmitir a minha paixão pelo desporto automóvel.
Se pudesses pôr todos os pilotos do WRC a comer um prato português, qual seria e porquê?
Escolheria, sem dúvida, o arroz de cabidela. Sendo eu do Norte, onde a paixão pelos ralis é tão grande, este prato tradicional representa a autenticidade e o sabor da nossa região. Acredito que seria uma experiência gastronómica única para eles.
Há alguma mensagem que queiras deixar aos jovens pilotos portugueses que sonham correr num Rally1 como o que vais correr no Vodafone Rally de Portugal?
A mensagem que deixo aos jovens pilotos portugueses é que tudo na vida exige dedicação e muito trabalho. É fundamental olharem para o panorama internacional, porque o nosso país, sendo pequeno, oferece um leque de oportunidades mais limitado. Inspirem-se nos melhores, aprendam com eles e ambicionem sempre ir mais longe. O sonho é possível com esforço e perseverança.