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Biasion: "Hoje os carros são muito rápidos e resistentes"

10 junho 2022

Nascido a 7 de janeiro de 1958, Massimo Biasion ficou conhecido na história dos ralis com o apelido de “Miki” Biasion. Tendo participado em 78 provas do WRC, o italiano foi duas vezes campeão do mundo (em 1988 e em 1989) com a Lancia. Apesar de ter pilotado para outras marcas (Opel e Ford, por exemplo) Miki Biasion vai ficar para sempre associado à marca italiana, ficando eternamente gravadas nas memórias dos fãs do desporto automóvel as imagens de Biasion no Rally de Portugal ao volante dos Rally 037, dos monstruosos Delta S4 e, após o fim dos Grupo B, dos Delta HF 4WD e dos Integrale. De uma simpatia contagiante, Biasion falou das evoluções tecnológicas e de formato das corridas nas últimas décadas, bem como das memórias do Rally de Portugal, prova que dominava quando, em 1986, e depois do dramático acidente da Lagoa Azul, em Sintra, os pilotos oficiais decidiram abandonar o rali.

Nos seus tempos de piloto, as provas do mundial de ralis decorriam num formato completamente diferente, quase em linha, o que obrigava as equipas a seguirem os pilotos ao longo do traçado. Hoje, a prova tem uma zona central onde se concentram as assistências e os pilotos regressam à “base” ao final do dia. O que acha desta alteração de formato?

Miki Biasion - Hoje em dia, o desporto (e não só o automóvel) tem vindo a mudar drasticamente. Continuo a achar que os ralis continuam a ser muito emocionantes e interessantes de seguir e os automóveis são muitíssimo rápidos e até por isso, por questões de segurança, este formato faz todo o sentido. Mas também é um formato mais eficiente do ponto de vista económico, já que é muito mais fácil fazer um “loop” e voltar à assistência do que obrigar as equipas, e toda a logística associada, a deslocarem-se ao longo de vários pontos nos diferentes dias de prova.

Por outro lado, é uma pena que se tenha abandonado por completo o formato anterior, porque quebra o contato direto com o público, com os fãs. Hoje os pilotos de rali parecem “estrelas de cinema”, muito ao género do que se passa com a F1. No nosso tempo, estávamos muito mais perto dos fãs, promovendo uma ligação emocional e até física que hoje tem-se vindo a atenuar ou até perder.

E em relação aos automóveis. As evoluções tecnológicas foram imensas e os carros de rali atuais são incrivelmente sofisticados. Mas em que área julga que o salto tecnológico foi mais evidente: nas suspensões, nos motores, na travagem, na tração...?

Miki BiasionOs carros de hoje são muito, muito rápidos, especialmente em curva. Mas julgo que o maior salto qualitativo face aos meus dias de competição foi nas suspensões e nos pneus. A potência, mesmo com os sistemas híbridos atuais, ainda é inferior aos Grupos B quando estes estavam no seu último estágio evolutivo, mas, hoje em dia, as suspensões e a capacidade de tração são realmente incríveis. Os automóveis são muito fáceis de pilotar e até “confortáveis” e o piloto pode simplesmente passar por cima de “toda a folha” sem males de maior, encarar saltos com enorme confiança e curvar a velocidades estonteantes. No nosso tempo tínhamos de conduzir com mais cuidado, sobretudo tendo em atenção as limitações do carro e tentando não destruir nada ou o menos possível.

Quais foram as melhores memórias que reteve do Rally de Portugal?

Miki BiasionBem, eu ganhei o Rally de Portugal várias vezes. Mas a edição mais marcante para mim foi a de 1985, em que conduzi um Lancia 037 Rally, um automóvel de apenas duas rodas motrizes, e fiquei em segundo, “entalado” entre o Peugeot do Timo Salonen e o Audi do Walter Röhrl. Foi um feito incrível e uma satisfação tremenda para mim. Mesmo não tendo vencido a prova, foi mesmo um momento memorável que nunca irei esquecer.

Quem acha que vai ganhar esta edição (questão colocada no dia anterior ao começo do Rally de Portugal)?

Miki BiasionHá vários candidatos e um lote grande de pilotos muito competitivos. É verdade que temos as “velhas raposas” como o Loeb e o Ogier, mas acredito que o kalle Rovanperä está a atravessar um momento incrível, uma época “tocada por Deus”, e por isso acredito que, no final das contas, o Rovanperä possa sair vitorioso desta edição do Rally de Portugal.

 

PS – Como o carismático Miki Biasion vaticinou, o Kalle Rovanperä venceu mesmo o Rally de Portugal e assumiu-se como o mais jovem piloto da história a ganhar a prova. Quem sabe, sabe...

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