Os anos passam, mas a francesa Michèle Mouton continua a ser a única mulher a ter conseguido ganhar pelo menos um rali do Campeonato do Mundo. Só que não foi apenas um, foram quatro – Itália, Portugal, Brasil e Grécia – em 1981 e 82, todos ao volante do carismático Audi Quattro.
Vice-campeã do Mundo de ralis em 1982, Mouton foi um dos pilotos que contribuiu para o título mundial de construtores conquistado pela Audi, numa altura em que as provas eram bastante diferentes das que conhecemos atualmente…
“Para mim, a maior diferença é que, antigamente, as provas eram mais de resistência do que de sprint como são hoje. As provas eram longas, de vários dias, com troços feitos à noite, alguns bem compridos… e nalguns sítios, como aconteceu uma vez em San Remo, o rali tinha 62 classificativas para percorrermos em cinco dias!”
Os tempos eram outros, e como diz não se podem comparar, porque, afinal, para Michèle Mouton… “para se ganhar tem que se ser o melhor, seja quais forem as condições que existirem. Disputar uma prova como as que se fazem hoje, em sistema de ronde, voltando sempre à assistência, é, para mim, menos interessante, porque se repetem os troços e quando eu corri isso nunca acontecia.”
E graças a este sistema de desenho da prova em forma de trevo, regressando os pilotos ao ponto de partida no final de cada dia, será que as coisas ficaram mais fáceis?
“Não. Afinal, é preciso continuar a ter cuidado com o carro e com o desgaste físico. É verdade que antigamente era mais difícil, porque se conduzia ao longo de cinco dias e agora são apenas três, mas são três dias em que se anda sempre a 120 por cento, coisa que nós não fazíamos, porque era de todo impossível.”
No que diz respeito aos carros, Mouton não tem dúvidas de que a evolução ao longo destes 50 anos de WRC se verificou a todos os níveis.
“Atualmente, acho que os carros são mais fáceis e divertidos de guiar, se bem que estes híbridos que temos agora obrigam a ter uma enorme atenção a uma série de coisas, como calcular a energia do motor elétrico e a forma como se utiliza. Mas, na verdade, a evolução foi enorme, tanto ao nível do chassis, como de motor, mas sobretudo da suspensão, que trabalha agora de uma forma fantástica para que a tração nunca deixe de existir. No entanto, a maior evolução de todas foi no capítulo da segurança. Os carros são os mais seguros que alguma vez se construíram, e isto é o mais importante.”
Memórias bem presentes e quando se pergunta quais as mais significativas de cada vez que regressa a Portugal, Mouton não tem dificuldade em responder…
“Lembro-me bem dos fãs, sempre muito apaixonados pelos ralis e presentes em todo o lado, fosse de noite ou de dia, do nevoeiro em Arganil, mas recordo com muito agrado quando ganhei esta prova e, no final, quando caminhávamos para o pódio, as mulheres atiravam-nos flores. Foi fantástico e talvez por isso, ainda hoje não tenho dúvidas de que era o meu rali favorito.”