Chamavam-lhe o “grande”, pelos quase dois metros de altura, mas também, porque era um grande piloto nos anos 70 e 80. Quem o conheceu como “chauffer” do Bispo de Regensburg, dificilmente imaginaria que, um dia, Walter Röhrl conquistaria por duas vezes o campeonato do Mundo de ralis.
O “grande” alemão, venceu em 1980 com o Fiat 131 Abarth e em 1982 com o Opel Ascona, mas é com o carro italiano que Rohrl recorda a melhor recordação do Rali de Portugal… “a passagem por Arganil” (risos).
Na verdade, não é todos os dias que um piloto “brinda” o seu colega de equipa (ambos sentados em carros iguais como era o Fiat 131 Abarth) com 3m48s no final de 42 km disputados, arduamente, debaixo de um nevoeiro intenso.
Markku Alen ainda hoje não gosta de falar no assunto, mas Walter Röhrl lembra-o com prazer, como sucedeu nesta passagem pela Exponor, na comemoração dos 50 anos do WRC, recordando uma vez mais como foi bem-sucedido nesse troço:
“Na noite anterior percorri mentalmente o troço e cronometrei esse exercício e só fiz menos 7 segundos do que o tempo que fiz na realidade”…
Quando se tenta comparar os tempos que viveu, quando fazia os ralis do “Mundial”, com a atualidade, Rohrl não tem dúvidas…
“Antigamente, fazer troços como o da Sra da Graça, aqui em Portugal, era uma loucura. A atitude com que se abordava este tipo de troços era completamente diferente de hoje em dia, em que os pilotos têm de levantar o pé do acelerador com antecedência para regenerar as baterias e nós não fazíamos isso. Era a dar sempre o máximo que podíamos.”
De resto, a forma como os ralis são disputados atualmente são também alvo de reflexão por parte de Walter Röhrl:
“A importância que a ordem de partida tem no desempenho do piloto e nos resultados que obtém nos troços é uma coisa que no meu tempo não era relevante. Depois, em termos de percurso, antigamente as provas disputadas em linha tinham o condão de gerar uma maior aproximação entre os pilotos e os mecânicos. Havia uma maior intimidade entre todos, a começar pelo facto de também eles fazerem um rali dentro do rali para nos acompanharem no troço seguinte. Era tudo mais intenso. Hoje, não creio que haja essa proximidade entre os pilotos e os mecânicos.”
A evolução das provas tem sido enorme, mas a dos carros talvez seja ainda maior e o carismático piloto alemão é o primeiro a lembrar isso. Concretamente, ao nível da suspensão que utilizam.
“É quase inacreditável vermos as imagens no Youtube dos carros a saltarem muito alto e depois a aterrarem sem que haja o mais pequeno ressalto. A suspensão absorve o impacto de tal maneira que o piloto pode continuar a acelerar como se nada acontecesse. Esta é, para mim, a maior evolução face aos carros que guiei.”