Os modelos Rally 1 são a nova “coqueluche” do Campeonato do Mundo de Ralis, constituindo a categoria de topo. Mas serão já mais eficientes e rápidos que os World Rally Cars de 2021? O Vodafone Rally de Portugal vai ajudar a esclarecer.
Verdadeiras estrelas do Campeonato do Mundo de Ralis, os modelos de Rally 1 representam, este ano, o topo da hierarquia dos carros que participam no WRC. Estando apenas destinados às três equipas oficiais - Toyota Gazoo WRT, Hyundai Shell Mobis World Rally Team e M-Sport Ford World Rally Team – os modelos foram desenvolvidos ainda durante a época de 2021, revelando alterações importantes face à última geração de World Rally Cars (WRC), categoria que, recorde-se, durante 24 anos (entre 1997 e 2021), se definiu como referência entre os carros de ralis.
Mas afinal como se distinguem os novos Rally 1 e em que é que evoluíram ou regrediram face aos antigos WRC?
Desde logo, há duas diferenças básicas que moldam o conceito dos novos carros. Por um lado, o facto dos novos Toyota Yaris GR, Hyundai i20 N e Ford Puma Rally 1 terem nascido a partir de um chassis 100% tubular e não do chassis original dos modelos que representam. Por outro lado, os novos Rally 1 passam a contar com uma unidade de propulsão híbrida de 100 kW acoplada ao motor de combustão interna de 1.6 litros turbo, o único componente principal herdado dos World Rally Cars. Na prática, isso significa que a unidade propulsora entrega aos pilotos uma potência superior a 500 cv (380 cv + 136 cv (100 kW) de “boost” elétrico em certas situações), naqueles que se afirmam como os primeiros carros de ralis híbridos da história.
Mas se está a pensar que só pelo facto de serem mais potentes, os Rally 1 têm necessariamente melhor desempenho, fique a saber que os World Rally Cars tinham algumas características técnicas superiores. E a explicação até é simples: foram desenvolvidos pelas equipas praticamente sem tetos orçamentais, o que não acontece com os novos Rally 1, que obedecem a um regulamento técnico mais restritivo para controlar os custos.
Entre as diferenças mais notadas está, desde logo, o peso, onde a diferença entre os carros das duas categorias é de aproximadamente 70 kg (os Rally 1 pesam aproximadamente 1260 kg e os WRC’s 1190 kg), diferença que se fica a dever, principalmente, à adoção do sistema propulsor híbrido e das suas baterias. Poderá não parecer muito, mas, na prática, é uma diferença de peso correspondente a duas rodas suplentes. Ou seja, é como se os Rally 1 levassem mais dois pneus durante os troços.
Igualmente importante é, também, a aerodinâmica, uma vez que nos Rally 1 esta passou a ser mais simples face ao que era visível nos WRC, com maiores limitações técnicas ao nível dos guarda-lamas dianteiros, saias laterais, asa traseira, elevação do piso e entradas de ar e ventilação para arrefecimento da unidade híbrida.
Mas é, porventura, ao nível da geometria da suspensão, que os pilotos dos novos Rally 1 mais diferenças estão a sentir face aos modelos que guiaram o ano passado, sobretudo, nas provas de terra, como é o caso do Vodafone Rally de Portugal. É que o curso máximo da suspensão foi substancialmente reduzido, de 380 para 250 mm, obrigando os pilotos a gerirem melhor o ritmo em pisos duros (principalmente nas segundas passagens dos troços) e a terem que adaptar o seu estilo de condução (teoricamente mais defensivo agora).
Igualmente intrusivo na adaptação à condução dos novos carros por parte dos pilotos (e engenheiros em termos de afinações) é o facto dos Rally 1 deixarem de poder contar também com diferencial central (um dos grandes “trunfos” dos WRC), bem como de uma caixa de velocidades que passou a ter cinco em vez de seis engrenagens, ao mesmo tempo que desapareceram as patilhas no volante.
Se, a tudo isso, somarmos o facto dos pilotos terem ainda que fazer a gestão o mais eficiente possível da potência extra gerada pela unidade de propulsão híbrida, durante o troço (“jogando” com o processo de regeneração da travagem), é fácil perceber que a sua vida, em termos de condução, ficou, definitivamente, mais difícil do que na era dos WRC.
Quem é mais rápido: um Rally 1 ou um WRC?
Mas há outra dúvida por esclarecer e que provavelmente se está a interrogar desde o início deste texto: serão os Rally 1 já mais rápidos que os WRC?
A resposta não é ainda clara. Para já, sabe-se apenas que os Rally 1 têm vantagem nas secções mais rápidas dos troços e os WRC nas mais lentas, mas como não houve ainda um troço com a mesma quilometragem e disputado nas mesmas condições de 2021 e 2022, nos três ralis do WRC até agora disputados, deverá ser mesmo o Vodafone Rally de Portugal a esclarecer a dúvida!