Se 14 construtores de automóveis já venceram o Rally de Portugal, há 27 modelos que fazem parte da história de glória da prova. Entre esses, fomos à procura dos 10 mais especiais (numa seleção que será sempre subjetiva)…
Com 55 anos de história, o Rally de Portugal foi atravessado por diversas gerações de carros, que, como é natural, muito evoluíram ao longo do tempo. Entre o Renault 8 Gordini que deu a primeira vitória a José Carpinteiro Albino, no então International Tap Rallye de 1967, e o Toyota Yaris WRC que Elfyn Evans consagrou no lugar mais alto do pódio do Vodafone Rally de Portugal de 2021, há muito mais do que 54 anos de diferença. Há um mundo de diferenças mecânicas e tecnológicas, que quase nos leva dizer que as únicas semelhanças entre os dois carros é que ambos têm quatro rodas, três pedais e um volante!
No leque dos 27 modelos que tiveram a honra de vencer a prova portuguesa, alguns tornaram-se verdadeiras lendas.
O Lancia Delta (nas versões 4WD, Integrale, Integrale 16V e HF Integrale “Deltona”) foi o mais vitorioso de sempre na história do Rally de Portugal. Cinco triunfos, em 10 ralis, na terceira década da prova e três pódios completos em três edições (numa delas, em 1990, houve mesmo sete Deltas no “top ten”) ajudaram a tornar o modelo num ícone da prova portuguesa e do WRC. Um domínio que se estendeu muito para além do Rally de Portugal de 1987, 1988, 1989, 1990 e 1992, com a conquista de seis títulos de Construtores no WRC, que provaram que o Delta foi o modelo que melhor e mais rapidamente se adaptou aos novos regulamentos, após a extinção dos Grupo B.
Com menos uma vitória no evento organizado pelo ACP e apesar de representarem gerações diferentes, Fiat 131 Abarth e Subaru Impreza também têm lugar cativo, por direito próprio, entre os carros mais bem-sucedidos da história da prova.
Com cerca de 230 cavalos de potência, o carro italiano foi responsável por três das cinco vitórias de Markku Alen (em 1977, 1978 e 1981), duas delas memoráveis: a de 1978, quando venceu o épico duelo da noite de Sintra contra o Ford Escort RS1800 de Hannu Mikkola e, em 1981, quando o 131 Abarth arrancou uma roda na ronda de Sintra no início do rali e, ainda assim, triunfou. Mas em 1980, o 131 Abarth também brilhou, só que dessa feita nas mãos de Walter Röhrl, que bateu historicamente Alen na madrugada de nevoeiro de Arganil.
Já a história de sucesso do Subaru Impreza assume contornos diferentes. Começa por estar ligada ao expoente máximo dos Grupo A, quando Carlos Sainz somou a sua primeira vitória em Portugal, em 1995, com o Impreza 555 da Prodrive, passando depois pelos primeiros anos dos World Rally Car, com os triunfos de Colin McRae (1998) e Richard Burns (2000). Depois disso, o Impreza só voltou “à ribalta” em 2005, em modo “Grupo N”, no ano em que a prova se estreou no Algarve (para começar a preparar o regresso ao WRC) e em que o sueco Daniel Carlsson venceu, num dos quatro Impreza da equipa Grifone que serviram para pilotos-convidados.
Falar dos carros mais emblemáticos do Rally de Portugal sem falar do Audi Quattro seria um “sacrilégio”. Três vitórias consecutivas (em 1982 com Michèle Mouton, que se tornou nesse rali a primeira mulher a vencer uma prova do WRC, e em 1983 e 1984 com Hannu Mikkola) servem para justificar as qualidades técnicas únicas, na altura, do modelo de Ingolstadt, que tinha na combinação do potente motor turbo e na tração integral um trunfo difícil de bater. A elas se juntava um mágico soar do “cinco cilindros”, que fazia estremecer as emoções e o chão…
Da mesma geração, o Lancia Rally 037 apaixonou e ainda apaixona os amantes dos ralis. Mesmo sem registo de qualquer vitória no Rally de Portugal - o melhor que conseguiu foram cinco pódios (1983 com Walter Röhrl; 1984 com Markku Alen e Attilio Bettega; 1985 com Massimo Biason e 1986 com Carlos Bica), aquele que na altura foi apelidado do “o F1 de estrada”, só não chegou mesmo mais longe por ter apenas duas rodas motrizes.
E porque muitas das páginas principais da história do Rally de Portugal se escreveram com o nome “Lancia”, também o Stratos HF não pode ser esquecido. Bastou um esclarecedor triunfo com uma margem de quase três minutos, em 1976 por intermédio de Sandro Munari, para o fazer perdurar até hoje na memória dos espectadores, que se deixaram inebriar pelo contagiante som do seu motor V6 de 260 cv.
Mais vitoriosos, Citroën C4 WRC (em 2007, 2009 e 2010 com Sébastien Loeb) e Volkswagen Polo WRC (em 2013, 2014 com Sébastien Ogier e em 2015 com Jari-Matti Latvala), por três vezes subiram ao mais alto lugar do pódio. Ambos confirmaram ser o expoente máximo das respetivas gerações de World Rally Cars, com a particularidade de terem sido desenvolvidos de raiz por e para Loeb (no caso do C4) e por e para Ogier (no caso do Polo), fundindo-se na perfeição com o estilo de condução, o que explica muito do sucesso do binómio carro/piloto.
A completar a lista dos 10 carros, porventura, que mais se destacaram no Rally de Portugal, há ainda espaço para o Toyota Celica e o Mitsubishi Lancer Evo. Qualquer um dos modelos assegurou também três triunfos em Portugal, com a particularidade de uma das respetivas três vitórias ter sido sempre alcançada por um piloto português. O Celica foi protagonista em 1991 com Carlos Sainz (Celica GT-4), em 1994 com Juha Kankkunen (Celica Turbo 4WD) e em 1996 com Rui Madeira (Celica GT-Four), enquanto o Lancer brilhou em 1997 e 2001 com Tommi Makinen (Lancer Evo IV e Evo VI) e em 2006 com Armindo Araújo (Lancer Evo VIII MR de Grupo N).