Ser o melhor português no Rally de Portugal sempre foi garantir um estatuto muito especial, por vezes, quase com a mesma importância do que ser campeão nacional de ralis. Mas se muitos pilotos conquistaram esse “prémio”, poucos o conseguiram em circunstâncias realmente extraordinárias que fizeram deles heróis nacionais. Sabe quem foram?
Nas 54 edições do Rally de Portugal, apenas por sete vezes (em 1967, 1969, 1986, 1996, 2003, 2004 e 2006) a posição de melhor português coincidiu com outra ainda de maior relevância: a de vencedor absoluto da prova. E apenas por uma vez se conjugou com o facto do Rally de Portugal pontuar para o Campeonato do Mundo de Ralis (1986).
Estes dados ajudam a identificar os cinco heróis portugueses - Carpinteiro Albino, Francisco Romãozinho, Joaquim Moutinho, Rui Madeira e Armindo Araújo - a quem a história reservou um lugar de ouro no palmarés da prova e que se tornaram os únicos que, em circunstâncias diferentes, é certo, atingiram o mais elevado lugar do pódio nos mais de 50 anos em que a prova já se disputa.
José Carpinteiro Albino foi o primeiro a consagrar o seu nome neste quadro de honra, em 1967, ano de estreia do Rali TAP de Portugal, impondo o seu Renault 8 Gordini à concorrência, fazendo do equilíbrio entre a rapidez e a resistência a receita de sucesso.
Dois anos depois e a apenas um ano da prova ser integrada no Campeonato da Europa de Ralis de Condutores, foi Francisco Romãozinho a destacar-se e a colocar outro nome português no palmarés de vitórias. O piloto do Citroën DS21 herdou o triunfo após a polémica desclassificação de Tony Fall, mas isso em nada diminuiu o seu mérito e capacidade para controlar as adversidades, numa prova onde apenas terminaram quatro das 119 equipas que iniciaram o rali.
E foi preciso esperar 17 longos anos para que outro português pudesse brilhar ao mais alto nível, então já no Rally de Portugal Vinho do Porto, mas, infelizmente, após circunstâncias dramáticas. Joaquim Moutinho, no Renault 5 Turbo, tornou-se o terceiro português a triunfar na prova, depois do acidente da serra de Sintra, que fez com que todas as equipas oficiais se retirassem da prova e deixassem caminho livre para aquele que, até aos dias de hoje, é ainda o único triunfo de um piloto nacional numa prova pontuável para o Campeonato do Mundo de Ralis.
Dez anos depois, circunstâncias especiais voltaram a marcar a subida de um português ao mais alto lugar do pódio. Rui Madeira foi autor da proeza, num TAP Rally de Portugal que pontuou apenas para o Mundial de 2 Litros (por imposição do esquema de rotatividade imposto pela FIA às provas do Campeonato do Mundo), mas onde o piloto do Toyota Celica GT Four se superiorizou a Freddy Loix de forma brilhante, depois de na época anterior ter vencido a Taça FIA de Grupo N.
Com o Rali de Portugal a deixar o WRC, em 2001, e a prova a assumir contornos nacionais, outra estrela portuguesa emergiu. Armindo Araújo venceu em 2003 e 2004 (Citroën Saxo Kit Car), em Macedo de Cavaleiros, e em 2006 (Mitsubishi Lancer Evo VIII) já no Algarve, antecipando então a candidatura aos títulos mundial de Produção que viria a conquistar nos anos seguintes e tornando-se, até hoje, o único português com três triunfos na prova.
O ano de 2006 foi o último em que um piloto com passaporte português inscreveu o seu nome na galeria dourada do Rally de Portugal. Com o regresso da prova ao WRC, em 2007, as estruturas oficiais regressaram em força e isso diminuiu sobremaneira a possibilidade de um piloto nacional voltar a escrever história com a palavra “vitória”.
De facto, longe vão os tempos em que um português conseguia brilhar ao mais alto nível, como aconteceu no Rally de Portugal Vinho do Porto de 1984, quando, mesmo com um Lancia Rally 037 menos evoluído que os utilizados pela equipa oficial da Martini Racing, o português António Rodrigues chegou a disputar o cronómetro com os melhores pilotos internacionais e se tornou, para muitos… o sexto herói nacional no Rally de Portugal, mesmo sem ter sido o melhor português nesse ano.